terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Angústia (Graciliano Ramos)

"Lá estão novamente gritando os meus desejos. Calam-se acovardados, tornam-se inofensivos, transformam-se, correm para a vila recomposta. Um arrepio atravessa-me a espinha, inteiriça-me os dedos sobre o papel. Naturalmente são os desejos que fazem isto, mas atribuo a coisa à chuva que bate no telhado e à recordação daquela peneira ranzinza que descia do céu todos os dias."


ANÁLISE DA OBRA ANGÚSTIA, DE GRACILIANO RAMOS 

         O leitor ao iniciar a leitura da obra Angústia, de Graciliano Ramos, ira depara-se com um personagem com graves conflitos psíquicos. Ele que no romance se mostrará um ser angustiado, desenvolverá uma obsessão que passará a psicose caso raro na psicanálise, mas que se manifestará em Luís da Silva. Como afirma Lacan, em seu seminário 3, sobre a psicose :

      “As produções discursivas que caracterizam o registro das paranóias desenvolve-se com toda a força aliás, a maior parte do tempo, em produções literárias, no sentido em que literárias quer dizer simplesmente folhas de papel cobertas com escritas.” (SEMINARIO 3, pág. 93)

        Também, seguindo a pista dos estudos realizados pelo professor Helmut Feldmann, que em longo estudo sobre as obras de “Graciliano Ramos e os reflexos de sua personalidade na obra”, ou melhor, dizendo nas obras, pois traça um paralelo entre os romances e as memórias do autor, interessando nesse estudo um trecho em que afirma sobre o protagonista do romance:

         “Luís da Silva enche todo o romance com o sentimento de frustração e com o pensamento de assassínio contra o rival Julião Tavares, que se torna aos poucos uma obsessão. O romance apresenta-se, destarte, como um estudo psicopático.” (Graciliano Ramos, reflexos de sua personalidade na obra, FELDMANN, Helmut, Pág 160)

       Esses pensadores apenas possibilitam o estudo mais compreensível do que aconteceu com Luís da Silva e seu estado interior, com 35 anos, pois da angústia que se manifestou com a perda em seu ego do objeto de desejo, para um outro objeto que se identifica como rival, ocorrendo assim à relação amor-ódio, que, segundo Freud, “esse ódio há de ser a força que será vitoriosa nesse combate em que o ego é desfeito e o objeto triunfa”. O caso do obsessivo é diferente, pois a relação com a realidade é preservada e não conduz à derrota do ego, mas tão somente uma severa punição. Mas não é isso que o leitor percebera, devido haver uma modificação de estrutura causada pelo alcoolismo.
 

Bibliografia:

  http://autoresmodernistas1910-1950.blogspot.com.br/2011/03/angustia-graciliano-ramos.html

 http://institutodelinguaviva.blogspot.com.br/2008/08/literatura-e-psicanlise.html

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